Toda primavera do hemisfério norte, durante a temporada de floração das cerejeiras, os templos Ninna-ji e Daikaku-ji em Kyoto, no Japão, ficam lotados de ônibus de turistas que vão tirar fotos das árvores cor-de-rosa. Apesar de esse ser o destino mais popular para os amantes da espécie, a alguns quilômetros dali, existe um jardim secreto ainda mais espetacular.
O local, aberto para visitação pública, tem 1,5 hectare de área e pertence a Tōemon Sano, de 97 anos: o sakuramori (guardião das cerejeiras) mais renomado do Japão.
Mas poucos estrangeiros sabem que a manutenção das árvores depende da dedicação intensa de seus cuidadores. Esses arboristas existem há séculos, mas foi só na década de 1970 que eles ganharam o título de “sakuramoris“, por conta de um romance que levava esse título e contava a história de um especialista em árvores apaixonado por sakura.

Um sakuramori é uma combinação de botânico e guia espiritual dedicado ao estudo das sakura e à promoção de sua preservação. Existem cerca de 100 especialistas deste tipo no Japão, entre os quais Tōemon Sano se destaca. Ele é a 16ª geração de uma distinta linhagem de agricultores que começaram a cultivar cerejeiras-anãs de floração tardia em meados do século 17.
Quando seu pai faleceu em 1981, ele adotou o primeiro nome Tōemon, por tradição familiar, e assumiu a direção da Uetō Zōen, a empresa de paisagismo fundada por sua família em 1832 e sediada no jardim.
Por mais de 80 anos, ele usou seu conhecimento especializado para zelar pela sobrevivência das sakura em jardins por todo o Japão e pelo mundo – incluindo o jardim japonês projetado por Isamu Noguchi, na sede da Unesco em Paris. Sakura Taikan, seu livro mais famoso, é a consolidação de seu conhecimento sobre as árvores e o ápice da pesquisa iniciada por seu avô durante o período Taishō (1912-1926).
