Embora desenhado segundo os preceitos do movimento moderno brasileiro, este apartamento histórico em Brasília não apresentava a típica planta livre, mas uma profusão de ambientes compartimentados, dispostos em um layout antigo, com excesso de corredores e quartos de serviço. A proposta de mudança – conduzida pelo Bloco Arquitetos – começou, inevitavelmente, por otimizar a circulação, atualizando os espaços e usos, e foi além: para os moradores, anfitriões natos, a primeira sugestão foi aumentar a área social e integrar a cozinha (além de manter outra menor, junto à lavanderia, para apoiar o serviço). “Brasília é uma cidade do mundo, tem muita gente indo e vindo, carregando influências diversas. Não cabia pensar em soluções convencionais, sobretudo porque a cozinha é a alma da casa brasileira”, opina o arquiteto Daniel Mangabeira. As amplas esquadrias da fachada frontal e o cobogó nos fundos foram maximizados com a derrubada de paredes para configurar a ala social de 120 m². Assim, a claridade e a ventilação naturais poderiam atravessar a moradia de um lado ao outro, como pregavam os modernistas. Outro fator determinante na reforma foi o primoroso acervo de móveis, objetos, obras de arte e livros dos moradores – ele, um estudioso da cultura helênica. Estes foram acomodados na nova biblioteca, para a qual foi desenhada uma estante sob medida. Peças diversas em estilo e origem – apesar da presença notável de exemplares do séc. 18 e de outros com referência clássica – encontraram lugar previamente marcado, definido em reuniões e conversas sobre o design dos interiores.